Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi poeta, diplomata, historiador e músico italiano do Renascimento.
Nasceu em Florença e era descendente de uma das mais antigas famílias florentinas. Pouco se conhece de sua vida antes de ter assumido as funções de secretário e segundo-chanceler da República Florentina, em 1498.
Os Estados que surgem rapidamente, como todas as demais coisas da natureza que nascem e crescem depressa, não podem ter raízes e estruturação perfeitas, de forma que a primeira adversidade os extingue.
Deve-se compreender que um príncipe, e em particular um príncipe novo, não pode praticar todas aquelas coisas pelas quais os homens são considerados bons, uma vez que, frequentemente, é obrigado, para manter o Estado, a agir contra a fé, contra a caridade, contra a humanidade, contra a religião.
Não se evita uma guerra, ela é apenas adiada para sua própria desvantagem.
O tempo lança à frente todas as coisas e pode transformar o bem em mal e o mal em bem.
Há uma dúvida se é melhor sermos amados do que temidos, ou vice-versa. Deve-se responder que gostaríamos de ter ambas as coisas, sendo amados e temidos; mas, como é difícil juntar as duas coisas, se tivermos que renunciar a uma delas, é muito mais seguro sermos temidos do que amados... pois dos homens, em geral, podemos dizer o seguinte: eles são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ambiciosos; eles furtam-se aos perigos e são ávidos de lucrar. Enquanto você fizer o bem para eles, são todos teus, oferecem-te seu próprio sangue, suas posses, suas vidas, seus filhos. Isso tudo até em momentos que você não tem necessidade. Mas, quando você precisar, eles viram-lhe as costas.
Quando fizer o bem, faça-o aos poucos. Quando for praticar o mal, é fazê-lo de uma vez só.
Creio que seriam desejáveis ambas as coisas, mas, como é difícil reuni-las, é mais seguro ser temido do que amado.
A primeira imprensão que se tem de um governante e da sua inteligência é dada pelos homens que o cercam.
Um povo corrompido que atinge a liberdade tem maior dificuldade em mantê-la.
Um príncipe sábio deve observar modos similares e nunca, em tempo de paz, ficar ocioso"
Como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão!
Pois o homem que queira professar o bem por toda parte é natural que se arruíne entre tantos que não são bons.
Um príncipe sábio deve observar modos similares e nunca, em tempo de paz, ficar ocioso"
Assegurar-se contra os inimigos, ganhar amigos, vencer por força ou por fraude, fazer-se amar e a temer pelo povo, ser seguido e respeitado pelos soldados, destruir os que podem ou devem causar dano, inovar com propostas novas as instituições antigas, ser severo e agradável, magnânimo e liberal, destruir a milícia infiel e criar uma nova, manter as amizades de reis e príncipes, de modo que lhe devam beneficiar com cortesia ou combater com respeito, não encontrará exemplos mais atuais do que as ações do duque.
Pelo que se nota que os homens ou são aliciados ou aniquilados
Não se pode chamar de valor assassinar seus cidadãos, trair seus amigos, faltar à palavra dada, ser desapiedado, não ter religião. Essas atitudes podem levar à conquista de um império, mas não à glória.
Homens ofendem por medo ou por ódio.
Os homens têm menos escrúpulos em ofender quem se faz amar do que quem se faz temer, pois o amor é mantido por vínculos de gratidão que se rompem quando deixam de ser necessários, já que os homens são egoístas; mas o temor é mantido pelo medo do castigo, que nunca falha.
O fim justifica os meios.
A mediocridade e o anonimato são a melhor escolha.
Não é a intenção que valida um ato, mas seu resultado.
Nenhum indício melhor se pode ter a respeito de um homem do que a companhia que frequenta: o que tem companheiros decentes e honestos adquire, merecidamente, bom nome, porque é impossível que não tenha alguma semelhança com eles.
Para bem conhecer o caráter do povo, é preciso ser príncipe, e para bem conhecer o do príncipe, é preciso pertencer ao povo.
Julgo poder ser verdadeiro o fato de a sorte ser árbitro de metade das nossas ações, mas que, mesmo assim, ela permite-nos governar a outra metade ou parte dela.
Precisando, portanto, um príncipe, de saber utilizar bem o animal, deve tomar como exemplo a raposa e o leão: pois o leão não é capaz de se defender das armadilhas, assim como a raposa não sabe defender-se dos lobos.
O primeiro método para estimar a inteligência de um governante é olhar para os homens que tem à sua volta.
Toda a ação é designada em termos do fim que procura atingir.
Nunca foi sensata a decisão de causar desespero nos homens, pois quem não espera o bem não teme o mal.
Os homens devem ser adulados ou destruídos, pois podem vingar-se das ofensas leves, não das graves; de modo que a ofensa que se faz ao homem deve ser de tal ordem que não se tema a vingança.
Dizem a verdade aqueles que afirmam que as más companhias conduzem os homens à forca.
Mas a ambição do homem é tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não pensa no mal que daí a algum tempo pode resultar dela.
Os homens esquecem mais rapidamente a morte do pai do que a perda do patrimônio.
E se poderia num longo discurso para mostrar como são melhores os frutos da pobreza que os da riqueza e como uma tem trazido honra às cidades, às províncias e aos partidos, enquanto a outra os tem arruinado, se este assunto já não tivesse sido tratado muitas vezes por outras pessoas.
Tornamo-nos odiados tanto fazendo o bem como fazendo o mal.
Quando um homem é bom amigo, também tem amigos bons.
Os homens quando não são forçados a lutar por necessidade, lutam por ambição.
São tão simples os homens e obedecem tanto às necessidades presentes, que quem engana encontrará sempre alguém que se deixa enganar.
Todos os profetas armados venceram, e os desarmados foram destruídos.
O desejo de conquistar é realmente muito natural e comum; e, sempre que os homens conseguem satisfazê-lo, são louvados, nunca censurados; mas, quando não conseguem e querem satisfazê-lo de qualquer modo, é que estão em erro, e são merecedores de censura.
Quem se torna senhor de uma cidade habituada a viver em liberdade e não a destrói, espera para ser destruído por ela.
Quanto mais próximo o homem estiver de um desejo, mais o deseja; e se não consegue realizá-lo, maior dor sente.
As injúrias devem ser feitas todas de uma só vez, a fim de que, saboreando-as menos, ofendam menos: e os benefícios devem ser feitos pouco a pouco, a fim de que sejam mais bem saboreados.
Eu creio que um dos princípios essenciais da sabedoria é o de se abster das ameaças verbais ou insultos.
Todos veem o que você parece ser, mas poucos sabem o que você realmente é.
Os homens prudentes sabem sempre tirar proveito dos atos a que a necessidade os constrangeu.
Tendo o príncipe necessidade de saber usar bem a natureza do animal, deve escolher a raposa e o leão, pois o leão não sabe se defender das armadilhas e a raposa não sabe se defender da força bruta dos lobos. Portanto é preciso ser raposa, para conhecer as armadilhas e leão, para aterrorizar os lobos.
Quem seja a causa de alguém se tornar poderoso, desgraça-se a si próprio: pois esse poder é produzido por si quer através de engenho quer de força; e ambos são suspeitos para aquele que subiu à posição de poder.
Uma mudança deixa sempre patamares para uma nova mudança.
Os que vencem, não importa como vençam, nunca conquistam a vergonha.
Nunca se deve deixar que aconteça uma desordem para evitar uma guerra, pois ela é inevitável, mas, sendo protelada, resulta em tua desvantagem.
Há três espécies de cérebros: uns entendem por si próprios; os outros discernem o que os primeiros entendem; e os terceiros não entendem nem por si próprios nem pelos outros; os primeiros são excelentíssimos; os segundos excelentes; e os terceiros totalmente inúteis.